caminhos perigosos

andando entre caminhos perigosos 
tão perto da escuridão 
eu estava perdendo rumo 
sem alegria, sem esperança 
mas você me trouxe de volta 

acho que não quis enxergar 
acho que não quis acreditar 
acho que não quis me entregar 
é verdade, eu caminhei para longe de você 
para longe do meu antigo eu 

você disse: respire fundo 
eu posso te trazer de volta 

você não desistiu, e agora eu vejo isso 
será que sou merecedora de tanto amor? 

você e eu 
eletricidade 
não há tristeza quando estamos juntas 
sua mão na minha, e eu perco o foco 
seu corpo no meu, e eu perco o ar 
e  está tudo bem, porque gosto disso
isso não pode ser um sonho 

corte as amarras, me leve para longe 
me faça esquecer tudo o que passou 
eu não sou uma boa pessoa quando estou longe de você 
e já faz tanto tempo que não me sinto assim 
vamos lá, respire fundo
me leve de volta


você me fez odiar tudo

três da manhã, eu ainda estou na rua 
a música dos autofalantes quase sangram os meus ouvidos 
mas tudo bem, esse é o preço que eu pago 
para não ouvir você 

você costumava ser tudo para mim 
mas agora eu não suporto ouvir o seu nome 
você me fez odiar tudo 
até essa cidade 

e de todas as vezes que você me machucou
e de todas as vezes que você disse que se importava 
e de todas as vezes que você foi embora 
e de todas as vezes que você me procurou 

eu nunca mais vou deixar você entrar 

isso é tão embaraçoso 
meus amigos continuam perguntando de você 
minha mãe ainda sonha em te conhecer 
como dizer a eles? 
como dizer a eles? 

você foi a minha pior mentira 
a pior decepção 
e se eu tivesse uma máquina do tempo 
eu juro 
nós nunca teríamos nos conhecido 

nós estamos livres agora

eles te perguntaram sobre a escola 
quais são seus planos para faculdade?
todos riram quando você disse que gostava de escrever
você passará fome, eles disseram 
está tudo bem, você pode chorar agora 
só estamos eu e você aqui 
eles não vão te encontrar 

não será grande coisa, a não ser que você torne isso real 
você pode se vestir como quiser, eles precisam te amar como você é 
vá embora se for preciso, você sabe que nunca pertenceu a este lugar 
não peça desculpas, são eles que devem isso a você 
está tudo bem, nós podemos nos abraçar agora 
eles não vão te humilhar de novo 

sempre haverá um novo dia, a não ser que você acabe com tudo 
quantas vezes você pensou nisso no meio da noite? 
sempre se escondendo, eles nunca saberão o mal que lhe causaram 
essa dor é sua, mas nós podemos dividi-la agora 
você não precisa carregar o mundo nas costas 
isso faz mais mal para você do que para eles 

eles dizem que nós não podemos ter filhos 
eles nos chamam de aberração 
todo esse ódio pode nos destruir, ou nos fazer lutar 
o que você prefere? 
e não me diga que desistiu de lutar, nós não temos essa opção, é só olhar para mim agora
deixe que o mal os consuma, isso não é mais problema nosso 
vamos embora, está amanhecendo 
chegou a hora de deixar tudo isso para trás 
nós estamos livres agora 

eu sei que você ainda pensa em todas aquelas coisas 
você diz que está bem, mas no fundo nós sabemos 
que você ainda se pergunta quem estará lá 
quando você enfim se casar 
eu sei que é difícil superar, mas nós precisamos deixar isso para lá 
nós estamos bem crescidinhas agora 
podemos ir para qualquer lugar, vestir qualquer coisa  
nós podemos amar 
e só isso importa 

Sobre mudanças, viagens, conexões e abraços


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        Se os últimos dois anos não foram difíceis para você, você é uma pessoa muito privilegiada - e há uma grande chance de também viver em uma bolha. Afinal, com uma pandemia mundial acontecendo e, mais especificamente falando do Brasil, muitas mudanças políticas, aumento de preços, desigualdade, pessoas perdendo tudo... e eu estou no meio disso tudo! 

        Falando sobre mim, os anos de 2018 e 2019 foram definitivamente os piores da minha vida. Uma desilusão amorosa e outra no âmbito da amizade, problemas sérios em um emprego que odiava, relacionamentos abusivos, perseguições, terror e pânico. Eu estava à beira do abismo, pronta para me jogar e acabar com tudo. Chorava todos os dias, vomitava tudo o que comia, não dormia direito, engordei 15kg, vivia aterrorizada, cercada de más companhias, trabalhava em ambientes tóxicos. Somado a isso, eu também sentia muita raiva do mundo, em como as coisas eram desiguais e injustas. Um belo dia, quando a pandemia começou e estava no auge da minha dor, gritei: Como Deus pode existir? Olhem tudo o que está acontecendo! 

        Foi em 02 de outubro de 2020 que as coisas mudaram. Que minha vida mudou. Veja bem, eu não estou aqui para fazer você acreditar em Deus, nem fazer desse texto algo chato, mas é preciso que você entenda que, se o que aconteceu naquele dia não tivesse acontecido, eu teria dois finais possíveis: a morte ou um surto psicótico. Realmente, estava no limite. E nada nem ninguém era capaz de me ajudar - só Deus. 

        Não vou entrar em detalhes. Mas digamos que sofri algum tipo de interferência externa. Felizmente eu estava acompanhada pelo meu melhor amigo e por uma conhecida dele, e as coisas não saíram tanto do controle. O fato é que, naquele dia, Deus falou comigo - e o mais importante, me salvou. Me falou e mostrou coisas que eu precisava ouvir e ver. Algumas delas, no fundo, eu já sabia, como por exemplo o fato de que eu deveria sair do meu emprego atual, pois ele estava me destruindo. Outras foram mais difíceis de aceitar - e demorei um certo tempo para agir e mudar. 

        Como lidar com aquilo que nós não sabemos explicar? Pois é. Eu sei, falando assim, é difícil acreditar, mas quando conto essa história em detalhes para as pessoas, é bem difícil não se emocionar e encarar a verdade de que sim, aconteceu. Nos dias que se passaram após aquele transformador 02/08/2020, muitas coisas aconteceram. Entrei de licença, voltei a frequentar a igreja, me conectei comigo e com Deus e, desde então - e até hoje! - Ele sempre fala comigo. São inúmeras as graças e mudanças que ele me proporcionou, e se eu mencionar... esse texto ficará bem maior do que eu planejei. 

        O fato é que em novembro de 2020 eu estava em um grande impasse - como sair do meu emprego se meus pais estavam aos poucos perdendo tudo por conta da pandemia e eu tinha um apartamento para sustentar? Foi em uma missa, então, que Deus sussurrou: Confie em mim! Saia, saia desse emprego! Eu nunca chorei tanto como naquele dia. Em dezembro, me colocaram de férias por quase três meses e eu soube: Se eu não saísse por conta do meu medo, Deus "mexeria os pauzinhos" para que as coisas mudassem. E foi em abril de 2021 que consegui outro emprego - durante meu período de aviso prévio, após ser demitida. Um emprego bom, que não era tóxico, e com pessoas maravilhosas. Incrível, né? 

        Desde então eu voltei a me exercitar, perdi 10kg, voltei para a terapia e me mantenho na linha da sanidade. Meus pais vieram morar comigo e ainda estou naquele período de adaptação e entendimento, onde tento melhorar e ser melhor a cada dia. Por vezes não consigo, é claro. Tem dias que ainda fico triste, que ainda acho que não mereço esse amor todo que Deus me envia. Eu me pergunto: Por quê eu? O que eu tenho de tão especial? São perguntas que quase sempre ficam sem respostas, e sei que um dia vou entender o propósito de tudo, mas a verdade é que isso me mudou. E, desde então, coisas boas não param de acontecer! Com isso, só chego à uma conclusão: quando você está disposta, realmente disposta e pronta para ouvir e enxergar tudo o que Deus tem para você, acontece. 

        Claro que meu processo de aceitação, mudança, autoconhecimento e de principalmente voltar a ser feliz não aconteceu da noite para o dia. Admito que, até dias atrás, eu ainda estava me sentindo desconexa com tudo. Sempre amei São Paulo, mas ultimamente estava me sentindo bastante solitária, não tão amada e muito fora do lugar. Eu pertencia mesmo a essa cidade? O que o futuro reservava para mim? As pessoas realmente me amavam e gostavam de quem eu era? Iria mesmo realizar meus grandes sonhos? Andava um pouco deprimida até que recentemente (mais especificamente na semana passada) realizei um dos meus grandes sonhos. Fui para Argentina!

        Desde pequena sempre gostei dos argentinos e principalmente do futebol argentino. Eu até torcia para a Argentina quando ela jogava contra o Brasil! E o meu ídolo era o Carlitos Tévez. Exótico, né? Então, prestes a completar 29 anos, resolvi fazer algo por mim e lá fui eu para Buenos Aires e Bariloche. Veja bem, em outubro de 2018, quando Deus falou comigo pela primeira vez, ele me disse "volte a ser aquela garota feliz que esteve sozinha no Atacama e superou seus grandes medos". Então, pessoalmente, essa viagem além de realizar um sonho também significava me conectar comigo e com aquela garota que subiu uma grande montanha mesmo que ela morresse de medo de altura, andou pelo deserto no meio de uma tempestade e não se intimidou com o escuro quando, todas as noites, a cidade ficava sem energia. 

        Dias antes da viagem um sentimento péssimo tomou conta de mim. Um certo... medo. Vou ficar solitária demais! Ainda estamos vivendo uma pandemia! Meus pais estão tristes e presos em casa! Meu espanhol é péssimo! Vou me sentir mais solitária do que me sinto em São Paulo, por não conhecer ninguém! Muitas indagações, sim? Mas eu silenciei todas. Silenciei todas e fui para minha viagem de oito dias sozinha, incluindo alguns dias em Bariloche, onde iria me enfiar no meio do mato e fazer muitos tours pela natureza. E essa foi... a maior e melhor decisão da minha vida. 

        Logo que cheguei em Buenos Aires ainda me sentia estranha e receosa. Mas, no dia seguinte... tudo mudou. Eu literalmente andei pela cidade toda, visitando pontos turísticos e me emocionando com todas as lindas arquiteturas maravilhosas que encontrava. Aquilo era o meu sonho! Eu me sentia feliz, completa e enfim conectada com aquela garota que esteve no Atacama em fevereiro de 2019 antes de tudo desmoronar. Mais do que isso eu também sentia que deveria e precisava estar ali e viver aquilo tudo. O tal do momento certo... 

        Mas, foi apenas em Bariloche que as coisas finalmente se encaixaram por completo. Lembra que disse que estava com medo de me sentir solitária? A verdade é que sim, eu realmente estava solitária por lá, mas sentir essa solidão era algo de que precisava. Veja bem, morando em São Paulo, uma cidade tão agitada, é fácil se sentir apenas mais uma na multidão. E após viver anos e anos sozinha em um apartamento, ter meus pais em casa estava sendo difícil. Ao longo de dois anos perdi tantas coisas (um amor, amigos, um emprego de 5 anos, minha liberdade), mas eu também havia ganhado muitas outras, certo? Então de onde estava vindo todos aqueles sentimentos? Por que eu estava tão desconexa e confusa? De onde vinha tudo isso? 

        Eu estava pensando em todas essas coisas em um passeio de barco quando conheci Nani e Mar. Nani, uma linda peruana de 30 anos que, para mim, representa muitas das coisas que desejo ser quando chegar nessa idade (eu sei, falta muito pouco!) e Mar, outra linda garota que ainda possui a doçura e sinceridade de uma mulher de 25 anos, mas que sofreu bastante e, por isso, é possivelmente uma das pessoas mais fortes que já conheci. Uma argentina nata, daquelas que qualquer um amaria conhecer. Analisando bem agora, já de volta ao Brasil, é como se três versões de mim mesma estivessem se encontrando ali, no país que sempre amei e sonhei em visitar. E esse encontro gritava a todo momento: Tinha que acontecer! Vocês tinham que se conhecer!

        Quando encontrei Nani, ela precisava de ajuda para tirar fotos e eu de um carregador de celular. Ela me emprestou seu cabo e eu, prontamente, comecei a tirar muitas fotos dela. Isso é incrível porque durante muito tempo estive mal com meu corpo e comigo mesma, e Nani para mim era tão bonita, como uma modelo, e eu pensei: Ok, posso chegar aos 30 assim se me cuidar! Se eu não chegar, tudo bem, ao menos posso tentar! Conversamos um pouco até que nos esbarramos em Mar... sim, seu nome como o oceano, e essa foi a primeira coisa que disse a ela (com meu péssimo espanhol). Lembro que imediatamente ela riu, um riso tão bonito e contagiante, que fez nós três caírem na risada. Mas Mar estava chorando, pois também se sentia solitária e também tinha suas questões. Não perguntei nem comentei sobre o seu choro, pois não queria ser invasiva. Ao longo dos dias ela me contaria sua história, e eu descobriria que tínhamos muito mais em comum do que eu imaginava.  Mas, naquele momento, nós apenas aproveitamos a companhia uma da outra. Eu havia acabado de conhecer duas pessoas maravilhosas, que carregavam muitas feridas e histórias tristes, mas estavam prontas para enfim virar a página. Te lembra alguém? 

        Em determinado momento, encontramos um gatinho muito fofo. Descobri que elas também amavam gatos! Eu tenho um gato, muitos sabem, mas o que poucos sabem é que ele foi um dos responsáveis por me salvar da depressão. Aquele momento foi tão lindo... claro que me marcou. Acontece que infelizmente o passeio estava acabando, e precisávamos ir embora. De volta ao barco, nos separamos. Fiquei muito triste com aquilo, porque tinha certeza que não as veria de novo... eu comecei a pensar: Por que nos separamos? Eu sou uma idiota, deveria ter ido com elas! Foi uma volta solitária para Bariloche. Já no porto, visualizava cada pessoa que saia do barco, na esperança de vê-las novamente... até que vi Nani. Ela sorriu, esperou que eu saísse da embarcação e me deu um abraço. Sim, um abraço!

        Vou te perguntar uma coisa: Quantos abraços você dá por dia? Quantas vezes abraçou os seus amigos ou alguém que você ama no último mês? Eu amo abraços, mas admito que dou muito menos do que deveria e gostaria. Por que abraçamos tão pouco as pessoas que amamos e nos importamos? E aquele abraço... ele foi tão carinhoso, sincero e inesperado! Nani me disse: Estamos indo para um bar, vamos? Não precisei pensar duas vezes. 

        Foi uma noite maravilhosa. Descobri que meu espanhol estava muito mais enferrujado do que eu pensava, mas isso não nos impediu de nos conhecermos, contar histórias, rirmos e nos entendermos. Em vários momentos eu precisava falar: Pode repetir e ir mais devagar? Nós ríamos, ríamos e começávamos tudo de novo. Eu repetia sempre: No Brasil nós falamos assim, como é aqui? E elas me respondiam e falavam: "Como?!" sempre que eu me embolava nas palavras. No meio de tantas confissões e conversas, acabei descobrindo que Nani também sempre teve o sonho de ir para a Argentina, e que Mar também havia passado por uma depressão e períodos sombrios. Nani se formou em jornalismo (como eu!) e é devota a Deus (como eu!) e, em vários momentos, nós três nos emocionamos muito. 

        Na hora de ir embora do bar - um lindo lugar chamado Manush, que se tornaria mais tarde nosso "point" - descobrimos que nós três faríamos os mesmos passeios com a mesma empresa e nos mesmos horários. Ok, qual a probabilidade disso acontecer? Entre tantas empresas e tantos tours disponíveis... é, realmente, Deus tem maneiras curiosas e divertidas de mudar e impactar a vida das pessoas. As coincidências não paravam de acontecer e os sinais gritavam! Nos despedimos com mais abraços apertados e um "até logo". Eu estava nas nuvens. 

        No dia seguinte descobrimos que, apesar de estarmos no mesmo tour, estávamos as três em ônibus diferentes. Isso não foi um problema. Encontrei Mar em uma das paradas, de costas, olhando para o lago. Eu sorri, ela se virou, sorriu de volta. Correu até mim e me deu um abraço apertado. Rimos, conversamos, tiramos fotos. Em outra parada, dessa vez mais longa, enfim estávamos as três juntas novamente. Almoçamos, rimos um pouco mais, tiramos as nossas primeiras fotos juntas e nos despedimos de novo. Pela noite, nos encontramos no Manush. Era como um ritual que aos poucos surgia... mas que acabaria um dia. 

        Nani foi a primeira a ir embora de Bariloche. Tivemos uma linda despedida, tiramos mais fotos, contamos mais segredos, nos conhecemos e choramos. Eu estava com a minha polaroid e tiramos três fotos iguais, uma para cada. E, embora ela estivesse indo embora, havia uma certa certeza... iríamos nos ver de novo. Demos um abraço triplo, foi lindo e, ao mesmo tempo, doloroso. Quando Nani subiu no ônibus, eu disse a Mar: Parecemos aquelas mães bobas que estão vendo o filho voar para longe de nós e ir embora. Nós rimos muito e acenamos descontroladamente pra uma Nani já chorosa. Ela se foi, agora só restava eu e Mar. Mas por pouco tempo, o dia seguinte era o meu último dia. Voltamos para o Manush abraçadas, precisávamos de conforto e de umas boas cervejas. 

        Fui embora de Bariloche na tarde seguinte, após ter um lindo - e gostoso - almoço com Mar, regado à vinho e mais confissões. Naquele momento eu já estava com o coração transbordado de tanto carinho que recebi em tanto pouco tempo, também tínhamos um grupo onde conversávamos e nossa conexão já estava estabelecida. Quando me despedi de Mar, após mais um abraço apertado, a acompanhei com o olhar até que ela desaparecesse na esquina, desejando com todas as forças que aquela mulher pudesse permanecer com a felicidade que ela havia vivido naqueles últimos dias e que nunca, nunca mais sofresse. Ela não merecia, nunca mereceu. Pedi a Deus: Que eu volte a encontrar essas mulheres, elas me ensinaram muito! Por favor, por favor Deus, cuide sempre delas! Faça com que Nani nunca perca sua garra e alegria de viver! Faça com que eu nunca perca essa felicidade e essas memórias!

        Quando voltei a Buenos Aires, Nani ainda estava por lá, tivemos um último almoço também. Ela me fez uma bela surpresa - algo que nunca ninguém fez por mim - pedindo um bolo e fazendo com que o pessoal do restaurante cantasse parabéns para mim (mesmo que essa não seja uma tradição do pessoal na Argentina). Choramos enquanto contávamos nossas histórias de vida, dávamos conselhos e fazíamos promessas: Vamos viajar muito ainda! Eu, você e Mar! E falando em Mar... tiramos uma foto para ela, falamos: Falta você! (Como eu e Mar havíamos feito no dia anterior para Nani). Rimos, rimos e choramos. Nos abraçamos. Nos despedimos... como é doce e preciosa a descoberta de algo que é maior que nós.

        Hoje, já de volta a São Paulo, não me sinto mais desconexa ou solitária. Sim, eu ainda amo essa cidade, mas essa viagem trouxe de volta a vontade de descobrir o mundo e, principalmente, me descobrir. De viver coisas novas, de conhecer pessoas, de ser feliz! Porque sim, eu mereço, e como mereço. Eu mereço ter mais abraços e momentos como os que vivi, mereço me sentir bem, presente e feliz. Eu mereço me sentir linda e amada. Eu mereço me reencontrar com Mar e Nani. E sei que vou. Essa é uma certeza que está tão firmada em mim que, embora eu sinta saudades, sei que a despedida será breve. E elas sentem isso também, falam isso a todo momento. Ontem mesmo tivemos nossa primeira videochamada, foi incrível. Filmei meu gato para elas, ele se comportou como um príncipe. Ficamos conversando por mais de uma hora, fazendo planos, contando sobre nossos próximos passos. Tiramos mais uma foto juntas - dessa vez, distantes, mas com a certeza de que, um dia, olharíamos todas aquelas fotos e relembraríamos de tudo. Felizes, juntas, como três grandes amigas. Amigas que, no início do ano, pedi a Deus. E ele me enviou. 

        É o que dizem: Me sinto pronta! Para ser feliz, viver grandes histórias. De ser a mulher que eu sempre quis ser. 

oceano


depois de tudo o que fizemos 
de tudo o que nos tornamos 
todas as palavras e promessas 
nós ainda podemos ter uma chance? 

faz tanto tempo 
mas parece que foi ontem 
nós duas na avenida mais movimentada da cidade 
você estava tão deslumbrada com as luzes 
e eu apenas sorria, alguns passos atrás 
tentamos tirar uma foto, mas nossos cabelos voavam 
gargalhamos e prometemos ter muitas noites como aquela 
acabamos num restaurante de aparência duvidosa 
eu estava pronta para te contar toda a verdade 
e você para se despedir
será que foi aí que nos perdemos? 

eu não suportei ver as lágrimas nos seus olhos 
implorei por clemência, implorei para que você ficasse 
você apenas pegou em minha mão 
"está feito", você disse 
o que eu poderia fazer? 
analisando agora, eu deveria ter implorado mais
você sempre foi uma bagunça, mas isso nunca foi um problema para mim 

era hora de voltar para casa, mas eu só queria poder congelar aquele momento 
"fique um pouco mais", implorei
foi então que paramos em uma sorveteria
eu e minhas gracinhas, nunca te fiz rir tanto como naquela noite 
pensando bem, você deveria estar se sentindo culpada 
você estava perdendo uma amiga e também uma amante 
a verdade é que sempre estive ali, só você não percebeu 
mas era hora de ir embora 

naquele dia, te levei na rodoviária
te busquei em casa, porque é isso que as pessoas que amam fazem 
te levei pra almoçar, porque queria me agarrar em qualquer mísero segundo 
mas eu não suportei o clima, não suportei a dor 
eu estava chorando no banheiro enquanto você se preparava 
voltei como se nada tivesse acontecido, porque é isso que as covardes fazem 
analisando agora, eu deveria ter implorado mais

então nós chegamos lá 
ficamos alguns segundos sentadas na sala de espera 
você me deu sua mão, não suportei 
não sei se foi o contato, ou as lágrimas que você lutava para não sair 
mas eu chorei, porque é isso que as pessoas que amam fazem 
seus olhos azuis como o oceano, eu só queria me afogar 
pensando bem, eu deveria ter implorado mais 
deveria ter te pedido um último beijo 
mas eu estava sem palavras, como tantas outras vezes 
não é como se eu não visse que você estava sofrendo 
eu só nunca fui boa em dizer adeus 

quantos anos fazem? 
dois, três, quatro? 
eu não me lembro mais 
odiaria saber que você está infeliz, essa é a verdade 
mas você está muito bem agora 
vejo em suas fotos, seus olhos ainda brilham 
azuis como o oceano
sim, como o oceano 
nós vivemos o que tínhamos para viver 
"foi melhor assim", eles me dizem 
mas eu já não tenho tanta certeza assim  

eu me sinto como os espelhos 
eles se quebram, trazem azar 
eu me sinto como a fumaça 
ela se dissipa e se espalha pelo ar 
é como se eu não tivesse mais nada pelo o que lutar
faz tanto tempo, porque ainda me lembro de tudo?
a verdade é que as coisas nunca foram como antes 
sem aquele tambor em meu peito 
eu só queria poder me jogar no oceano
sim, no oceano
só mais uma vez 

estrada

minha mente sempre navega para lugares que não quero ir 
você sabe, ás vezes eu me fecho demais 
eu continuo machucada, danificada 
é uma pena que as coisas precisem ser assim 

por muito tempo fui minha pior inimiga 
era difícil me olhar no espelho 
me reconhecer além de todas aquelas coisas 
que me levavam ao céu 
mas não duravam mais que três minutos 

até hoje eu tento me convencer 
de que fiz o certo ao ir embora 
que fiz o certo ao quebrar seu coração 
conte uma mentira quantas vezes precisar 
até ela se tornar verdade 

eu não sinto sua falta
ás vezes eu me pego pensando em você 
o que tem de errado nisso? 
acho que só estou um pouco chapada 
tente compreender 
quando digo que foi melhor assim 

deixei destruição e corações partidos por onde passei 
conheci as piores pessoas, elas me trouxeram até aqui 
eu poderia ter dito não, eu poderia ter ido embora 
mas eu só queria chegar até o fim daquela estrada 
talvez eu tivesse a esperança de te encontrar por lá 

toda noite eu tentava te encontrar
em uma garrafa, entre a fumaça, entre as pílulas 
tantos corpos, nenhuma boca pra me dizer a verdade 
ninguém pra me puxar de volta 
talvez eu devesse me perdoar 

eu não sinto sua falta 
faz muito tempo que eu não penso em você 
mas ás vezes isso acontece 
o que tem de errado nisso? 
eu não posso ir por aquele caminho de novo 
não há nenhuma versão melhor de mim no fim da linha 
somente a pior, e não quero mais encontrá-la 
eu não posso ir por aquele caminho de novo 
agora sei que você não estrará lá
é, você não vai estar lá 

if you found love

caminhos opostos, histórias que se cruzam 
eu admito, eu não te vi chegar 
tratei tudo como se fosse apenas uma aventura 
e você me olhava, sorriso nos lábios 
"por que você demorou tanto?"
mas eu estava sempre indo embora
como se tivesse algum lugar para ir 

nós passamos tantos momentos bons juntas
rimos de nós mesmas, nos abraçamos até o amanhecer 
e você me embalava, brilho nos olhos 
"eu sabia que um dia te encontraria"
por que essa coisa chamada amor foi acontecer agora? 
e eu o deixei cair, eu o deixei cair 
e agora você me acusa de quebrar seu coração 

talvez eu estivesse errada 
talvez eu devesse tentar 
você me mostrou a porta, lágrimas nos olhos 
"se quiser ir, vá"
mas eu não tive forças, eu nunca tive 
em vez disso, coloquei a nossa música 
te abracei, porque isso era tudo o que eu podia fazer 
e você me beijou
naquele momento, nós sabíamos
talvez eu soubesse desde o dia em que te conheci 

if you found love 
you don't give up 

if we fall down 
we get up 

if you found love 
you don't give up 

It never let me go


eu vivo dizendo pra mim mesma que aquela foi a última vez
mas olha quem está aqui de novo 
eu sei que vou chorar como todas as outras vezes
minhas lágrimas vão secar
como sempre secaram 
mas meu coração continuará partido 

então eu uso minhas palavras 
nem que seja para ser rude novamente
eu esqueço que um dia tive voz 
para dizer qualquer outra coisa 
diferente daquele "eu te amo, não me deixe"
sinceramente, gostaria de poder gritar 
porque mais uma vez tive minha vida roubada 
eles não podem me ajudar 

você já quebrou meu coração tantas vezes 
e o pior é que você sabe disso
e mesmo assim finge como se isso não fosse nada 
me trata como uma qualquer 
como se nós não tivéssemos uma história 
que já se arrastou por tantos anos 
você sabe, sempre soube 
mas você não se importa, como nunca se importou 

o pior é que eu sei como você gosta disso 
como você me usa e depois desaparece 
fazendo tudo isso parecer uma loucura
a verdade é que você necessita do meu coração assim, apodrecido 
você se aproveita do meu amor 
porque ele alimenta o seu ego 
tão ferido, tão frágil 
eu sou a válvula de escape perfeita para você 
e está tudo bem, desde que você consiga voltar 
minha dor são como anéis de diamante 
que se enroscam em seus dedos 
e você sorri, porque é isso que você quer 
é isso que você sempre quis 

quando nós ficaremos satisfeitas? 
isso nunca me deixou ir 
essa coisa que me puxa de volta, me fazendo ficar e tentar
eu sou sempre puxada, não importa o que aconteça 
nós precisamos continuar o show 
me deixa acreditar

 

acho que ainda tá cedo 
e dá medo 
dizer que a distância não muda nada 
que podemos ter tudo 
e ser tudo 
é só você querer 

já tive tantas vidas
tantas chances, tantas bocas
mas nada disso foi suficiente 
nada disso fez meu coração palpitar
como quando estou com você 

então eu fujo 
mesmo quando quero ficar 
e implorar 
fujo e me escondo 
em outras curvas 

o destino nos reuniu de novo
nos testou, me puxou 
eu nego, me despeço 
imploro por uma conclusão 
mas não 
eu sonho conosco 
procuro teu corpo 
grito teu nome 
o impossível diz que sim 
então me deixa acreditar

quanto tempo?

promessas vazias que não se calam 
a indecisão que percorre o corpo e paralisa 
eu fui louca, eu fui legal 
fui tudo que você pediu para eu ser 
e mesmo assim as coisas permanecem iguais 

você me teve em suas mãos 
me usou como bem quis 
muito mais do que eu gostaria 
e nem nos meus piores pesadelos 
eu fui tão menosprezada como naquele dia 
mas, tudo bem, eles disseram 
"ela só não soube como processar"
foda-se você e os seus jogos 
eu estou cansada disso 

quanto tempo até você me procurar? 
quanto tempo até você reaparecer como se nada tivesse acontecido? 
você só aparece quando precisa 
você só é legal quando está bêbada 
você nunca me mostrou o seu melhor
e isso é tão injusto
quando tempo até você se ver sem saída?
quanto tempo até você me desejar de novo? 

eu sei que a vida não é justa 
mas você não pode jogar seus problemas em mim 
e depois me afastar como se eu fosse uma qualquer 
eu estou tão cansada de tentar consertar tudo 
de te procurar e me rastejar 
não é assim que amigos deveriam se tratar 

tudo isso me faz pensar que 
me faz ver que 
ah!

quanto tempo até você mudar de ideia? 
quanto tempo até você desaparecer? 
eu preciso aprender a me ouvir
eu preciso ouvir meus amigos 
e não você 
quanto tempo até você me machucar de novo?