depois de tudo o que fizemos 
de tudo o que nos tornamos 
todas as palavras e promessas 
nós ainda podemos ter uma chance? 

faz tanto tempo 
mas parece que foi ontem 
nós duas na avenida mais movimentada da cidade 
você estava tão deslumbrada com as luzes 
e eu apenas sorria, alguns passos atrás 
tentamos tirar uma foto, mas nossos cabelos voavam 
gargalhamos e prometemos ter muitas noites como aquela 
acabamos num restaurante de aparência duvidosa 
eu estava pronta para te contar toda a verdade 
e você para se despedir
será que foi aí que nos perdemos? 

eu não suportei ver as lágrimas nos seus olhos 
implorei por clemência, implorei para que você ficasse 
você apenas pegou em minha mão 
"está feito", você disse 
o que eu poderia fazer? 
analisando agora, eu deveria ter implorado mais
você sempre foi uma bagunça, mas isso nunca foi um problema para mim 

era hora de voltar para casa, mas eu só queria poder congelar aquele momento 
"fique um pouco mais", implorei
foi então que paramos em uma sorveteria
eu e minhas gracinhas, nunca te fiz rir tanto como naquela noite 
pensando bem, você deveria estar se sentindo culpada 
você estava perdendo uma amiga e também uma amante 
a verdade é que sempre estive ali, só você não percebeu 
mas era hora de ir embora 

naquele dia, te levei na rodoviária
te busquei em casa, porque é isso que as pessoas que amam fazem 
te levei pra almoçar, porque queria me agarrar em qualquer mísero segundo 
mas eu não suportei o clima, não suportei a dor 
eu estava chorando no banheiro enquanto você se preparava 
voltei como se nada tivesse acontecido, porque é isso que as covardes fazem 
analisando agora, eu deveria ter implorado mais

então nós chegamos lá 
ficamos alguns segundos sentadas na sala de espera 
você me deu sua mão, não suportei 
não sei se foi o contato, ou as lágrimas que você lutava para não sair 
mas eu chorei, porque é isso que as pessoas que amam fazem 
seus olhos azuis como o oceano, eu só queria me afogar 
pensando bem, eu deveria ter implorado mais 
deveria ter te pedido um último beijo 
mas eu estava sem palavras, como tantas outras vezes 
não é como se eu não visse que você estava sofrendo 
eu só nunca fui boa em dizer adeus 

quantos anos fazem? 
dois, três, quatro? 
eu não me lembro mais 
odiaria saber que você está infeliz, essa é a verdade 
mas você está muito bem agora 
vejo em suas fotos, seus olhos ainda brilham 
azuis como o oceano
sim, como o oceano 
nós vivemos o que tínhamos para viver 
"foi melhor assim", eles me dizem 
mas eu já não tenho tanta certeza assim  

eu me sinto como os espelhos 
eles se quebram, trazem azar 
eu me sinto como a fumaça 
ela se dissipa e se espalha pelo ar 
é como se eu não tivesse mais nada pelo o que lutar
faz tanto tempo, porque ainda me lembro de tudo?
a verdade é que as coisas nunca foram como antes 
sem aquele tambor em meu peito 
eu só queria poder me jogar no oceano
sim, no oceano
só mais uma vez 

QUEM ESCREVEU?

Iule Karalkovas
30 anos. Tem um gato chamado Alycia. Sonhadora, poeta, crítica. Ama escrever. Começou o VIDA E ÓCIO em 2012 e até hoje mantém postagens não tão regulares.

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