Não sei porque te escolhi. Entre tantos homens e mulheres, lá estava você, usando uma regata branca e um shorts surrado. Simples, eu sei. Num primeiro momento, pensei em desviar os olhos, mas meu desejo foi maior do que minha timidez. Em poucos segundos, estava do seu lado, suas mãos em minha cintura - dançávamos conforme a música. "Meu coração é seu!", você sussurrou em meu ouvido. Já estava entregue.
Até que foi rápido. Não perguntei teu nome. Meus lábios foram instantaneamente de encontro ao seus. Por alguns segundos, foi como se o mundo tivesse parado de girar. Quando terminamos, minha boca tinha gosto de maracujá. "Tudo bem?", perguntei com um sorriso maroto. "Como você chama, princesa?", você rebateu. Não esperamos por respostas. Engatamos mais um beijo, desta vez com mais intensidade. Minhas mãos percorriam suas costas, seus dedos puxavam meus cabelos. Estávamos arfando, a líbido invadindo nossa corrente sanguínea, nossos pecados se misturando rapidamente com os da multidão.
"Pedro! Me chamo Pedro!", você disse contra os meus lábios. Agora, sua mão esquerda apertava minha cintura, enquanto a direita se encaixava entre a curva do meu rosto. Isso era um gesto romântico, até. Se não estivéssemos no meio do Carnaval de São Luiz, poderia até dizer que estávamos apaixonados. "Lindo nome, Pedro!", eu disse, meus dedos afagando sua nuca. Enquanto esperava por uma resposta, você passou o dedo indicador por meu lábio inferior. "Ainda estou esperando você dizer...".
Mais uma onda de beijos. Essa sou eu. Nunca gostei de dizer o meu nome, nem de trocar o número de telefone. Para mim, revelar essas duas informações pode significar que estou propícia a entrar em alguma furada - afinal, Carnaval é aquela época do ano em que deixamos os problemas em casa. "Não vai me dizer o seu nome?", você me perguntou, o rosto acusatório. "Hein, hein, hein?", sussurrou, após beijar o meu pescoço. "Eu quero te conhecer!".
Três frases que funcionaram como bombardeios. Era hora de colocar o meu plano infalível em prática. "Carla. Meu nome é Carla", menti. Era uma resposta básica, um nome fictício que eu usava sempre que queria me safar de alguma situação como essa. "Vai pedir o meu telefone também?", brinquei. Seus olhos falaram por você.
Nos beijamos por mais algum tempo. Ali, foi fácil me perder, esquecer o meu nome, os problemas, e todas as pessoas que deixei em casa. Foi fácil esquecer o passado e aquela pessoa que ainda fazia o meu coração bater mais depressa. Mas, como a noite ainda era uma criança, era hora de dizer adeus. Quando tempo durou o nosso momento íntimo? Não sei dizer. Vinte minutos, talvez, mas não me surpreenderia se alguém tivesse confidenciado que estávamos ali agarrados por horas.
Quando fui embora, olhei para trás. Sei que não deveria, mas algo me dizia que era preciso oferecer um último adeus. Minha mão se levantou em um aceno e, mesmo de longe, nossos olhos se encontraram. Você sorriu com os lábios repuxados. "Tchau, Carla!", gritou. Mas eu já estava longe. Dezenas de pessoas já se materializavam entre nós, os nossos suores misturando-se. Fui embora, mas deixei uma parte de mim contigo. Era sempre assim.
O amor de carnaval sempre acaba na quarta-feira - e só é bom enquanto dura.
QUEM ESCREVEU?

Iule Karalkovas
30 anos. Tem um gato chamado Alycia. Sonhadora, poeta, crítica. Ama escrever. Começou o VIDA E ÓCIO em 2012 e até hoje mantém postagens não tão regulares.
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IULE KARALKOVAS

31 anos. Mulher da música, amante da poesia. Mãe de um gatinho. Sou tudo e sou nada (tudo depende do dia em que você me conhecer).
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