Já dizia Túlio Dek: O que se leva da vida é a vida que se leva. 

Hoje encerro uma etapa em minha vida. O sentimento é de perda, sim senhor, mas tenho, em meu coração, uma chama que cresce a cada segundo. Há três anos, neste mesmo mês, eu me mudava para São Paulo. Estava com duas malas. Itens pessoais; fotos da minha mãe e minha irmã que deixei para trás, e roupas suficientes para passar uma semana na cidade grande. Se eu estava com medo? É claro que estava. Mas o meu pai estava comigo. Quando cheguei na "casa nova", encontrei um quarto pequeno, sujo. Com um sorriso no rosto, nós começamos a limpar tudo.

Aceitei aquilo de braços abertos. Com muita força de vontade. Claro que, nos primeiros meses, tive uma saudade incontrolável de casa. Morria de medo das baratas que insistiam em aparecer do nada. Mas, com o tempo, percebi que aquela cidade era o meu verdadeiro lugar. Então comecei a cursar jornalismo, meu grande sonho. Fiz amizades. Entrei para o meu primeiro estágio. Em três anos, troquei de quarto, pintei paredes e ganhei móveis novos. Muitos móveis novos. Aquela cama barulhenta, que tanto incomodava, já nem existe mais. Até hoje, eu tinha o quarto dos sonhos: paredes azuis e amarelas, pintadas por minha mãe, uma grande mesa para escrever e uma linda estante de livros.    

Acontece que, como todo conto de fadas, o vilão apareceu. Até que demorou um pouquinho, sabe? Não vou mentir, esses três anos tiveram muitos momentos difíceis. Já cheguei a pensar em desistir. Mas nunca fiz isso, porque se tem uma coisa que aprendi com meus pais, é que todo problema, por mais tenebroso que ele possa aparecer, tem solução. Só que, desta vez, a solução está demorando um pouco para aparecer.

Eu e meu pai vamos ter que mudar de casa. Esse momento ia chegar um dia, claro, mas é que hoje, quando empacotei as últimas coisas, é que percebi o quanto sou grata por aquele lugar. Grata por todas as risadas e gargalhadas. Pelos jantares divertidos, os churrascos improvisados e todas as lembranças que martelam em meu peito como farpas. Grata por ter tido um teto enquanto tantas pessoas desistem de seus sonhos por falta de oportunidade. Eu tive uma. E vou ser eternamente grata por isso.

E você pai, que ontem estava tão triste, cabisbaixo, relembrando de tudo o que passamos, uma mensagem. Não importa para onde teremos que ir. Eu vou estar com você. Você vai estar comigo. Isso tudo começou há três anos, e você estava lá para me ajudar - me ajudando até com as roupas sujas espalhadas pelo quarto, né? -, então não se preocupe. Aquilo são só tijolos velhos. Uma casa que, em breve, será ocupada ou demolida. Todos os nossos momentos, as risadas, os sonhos e as lembranças estão aqui, conosco. Em nossos corações. Isso pai, isso ninguém pode tirar. 

Cabeça erguida e vamos seguindo em frente. Vamos continuar batalhando, sorrindo e valorizando todos os pequenos momentos. São eles que importam. E obrigada. Obrigada por tudo o que você fez por mim. Por todos os degraus que você e a mamãe colocaram em minha pequena e frágil escada. Se daqui há quarenta anos eu for metade do que você é hoje, eu com certeza vou ser um ser humano admirável. Digna de palmas.

Hoje você merece palmas pai. Eu te amo. Muito. Meu herói.

QUEM ESCREVEU?

Iule Karalkovas
30 anos. Tem um gato chamado Alycia. Sonhadora, poeta, crítica. Ama escrever. Começou o VIDA E ÓCIO em 2012 e até hoje mantém postagens não tão regulares.

LEIA TAMBÉM!