— Numa escala de zero a dez, o quão ruim foi?
                 — A gente não precisa... ter essa conversa.
                 Revirei os olhos. Depois de uma noite de sono péssima, tudo o que eu precisava era da verdade. Minhas mão ainda estavam tremendo. Por que isso estava acontecendo?
                 — A gente não pode simplesmente esquecer que aquilo tudo aconteceu? - ela voltou a dizer. — Seria melhor.
                 — Então você quer dizer que, apesar daquela catástrofe, eu ainda posso ter uma chance com você? Porque é isso que eu quero.
Silêncio.
— Você me deixa confuso. Você é fofa e atenciosa num momento, e, no outro, parece que estou te enchendo. Sabe... ultrapassando os seus limites - respiro fundo, pronto para o xeque-mate. — O que você quer de mim?
— A gente só deveria ir... com calma. Entende? 
— Eu estou indo com calma. 
— Ontem você disse que gostaria de me ver todos os dias e...
Definitivamente, não. 
— Não foi assim... - respiro fundo, arfando. — Todas as garotas esperam ansiosamente por uma mensagem depois do... primeiro encontro. Mas o nosso foi tão... 
— Estranho? 
— Estranho. - fecho os olhos por dois segundos. — E aí, você ficou quieta. E eu mandei a mensagem. - repuxo os lábios, a raiva subindo por minha garganta. — E, no dia seguinte, você fingiu que nada aconteceu. 
— Nós não temos nada!
— Mas eu gostaria de ter. Um dia. 
Silêncio. 
Silêncio. 
Resolvo falar. 
— Olha, eu não tenho tempo nem idade para joguinhos. Eu estou numa fase que... quero estabilidade. Alguém do meu lado. 
Ela continua quieta. 
— Quer saber? 
— Quero. 
— Eu deveria ter te beijado assim que te vi. Ter pego na sua mão logo que entramos no bar. Ter dito que você estava linda com aquela blusa... ter feito tudo sem medo, sem timidez... 
— Sem tremedeira. 
— Sem acabar com tudo.  
— Mas você não fez nada disso. 
— Eu não sou uma propaganda enganosa. 
Silêncio. Desconfortável, ela se remexe na cadeira. 
— Eu não gosto de planos. 
BOOOM. Está aí a minha verdade. 
Acho que ela percebeu que fiquei desconfortável. 
— Você é uma gracinha. 
Terceiro erro. 
— Obrigado. 
Mais uma longa pausa. Silêncio insuportável. 
— O que você vai fazer hoje? 
— Você disse que não gosta de planos. 
— Ninguém aqui está fazendo planos. 
— Ainda. 

QUEM ESCREVEU?

Iule Karalkovas
30 anos. Tem um gato chamado Alycia. Sonhadora, poeta, crítica. Ama escrever. Começou o VIDA E ÓCIO em 2012 e até hoje mantém postagens não tão regulares.

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