Nos últimos meses, venho dispensando muitos convites para sair. E isso acontece não porque estou sem tempo, mas sim porque tenho preguiça de ser interessante. Isso mesmo. Preguiça de ser interessante.

Sabe aquela velha história de sentar na frente de uma pessoa em um restaurante e fingir que está interessada no papo? Cansei. Cansei de ter que sorrir, rir, arregalar os olhos, cruzar as pernas, umedecer os lábios, questionar e concordar nos momentos certos. Cansei de ficar apreensiva, pensando coisas como "será que ele está gostando de mim?". Cansei de fazer a 'linha educada', aceitando bebidas e comidas que não gosto só para agradar. Cansei de mentir que já assisti determinado filme/série só para parecer cult, de dizer que o último livro que eu li foi uma biografia fodona de um cara que eu nunca ouvi falar só para parecer inteligente.

A verdade é que o ser humano tende a se adaptar para querer agradar o outro. A cada encontro, é como se você criasse uma nova personalidade, que atenderá aos desejos e necessidades do futuro parceiro. Mas eu cansei disso, sabe? Não precisa ser assim. Tem muito homem/mulher no mundo! Eu quero poder ser eu mesma. Quero poder dar um novo rumo na conversa quando estiver com tédio, e até discordar quando for preciso. Quero poder dizer que o último livro que li foi um desses best-sellers bobinhos, e que o último filme que assisti foi uma comédia romântica que me fez chorar do inicio ao fim. Quero poder ficar séria quando uma piada for ruim, quero poder fazer piada da própria piada. Quero revirar os olhos. Quero poder dizer que só estou interessada no que vamos fazer depois do encontro. E quer saber? Nada disso poderá definir quem eu sou.

Ninguém conhece ninguém de verdade. Gostamos de julgar, apontar erros, mas raramente paramos para pensar nos nossos próprios defeitos. Só porque gosto de determinado filme, livro ou música não quer dizer que eu não tenha conteúdo. E se eu parecer estranha, avoada, desastrada ou até mesmo chata num primeiro momento, não pense que eu não tenho muitos segredos ou que sou uma pessoa superficial. E isso tudo bate de frente com pensamentos como "não vou falar isso porque ele pode me interpretar mal". Vamos parar um pouquinho para pensar? Antes de sair comigo, você não precisa realizar uma pesquisa para saber exatamente do que gosto. Não diga que assistiu determinada série só porque você sabe que vou gostar de ouvir isso. Vamos nos deixar levar, vamos nos apegar ao mistério, a promessa que, no dia seguinte, poderá ser tudo diferente. Faça de mim um livro, onde, a cada página, você descobrirá novas coisas e terá que interpretar novos fatos. Vá com calma, um passo de cada vez. E, por favor, seja você mesmo. E deixe eu ser eu mesma também.

QUEM ESCREVEU?

Iule Karalkovas
30 anos. Tem um gato chamado Alycia. Sonhadora, poeta, crítica. Ama escrever. Começou o VIDA E ÓCIO em 2012 e até hoje mantém postagens não tão regulares.

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