Eu costumava saber das coisas. Sempre fui dona do meu tempo, calculando o que poderia ou não acontecer. Mas, ultimamente, tudo anda diferente demais. As noites estão cada vez mais solitárias, e os dias cada vez mais tediosos. O que aconteceu? Nada mais me surpreende. Todos os dias são iguais. Exatamente iguais.
Me conheço. Já passei por muitas fases; amei, odiei, fui amada, idolatrada, esquecida. A diferença é que, agora, a chuva não quer passar. Tudo está desmoronando aos poucos. O tempo está passando de maneira surpreendentemente veloz e estou envelhecendo. O que eu fiz? O que eu tenho? O que vou deixar? Olhos cansados, pele fria, uma memória falha. Ás vezes, penso que posso estar apenas no fim de uma intensa caminhada. Será que esqueci das coisas boas da vida? Conforme os dias passam, eu apenas assisto a minha dor. Tudo custa muito caro, tudo exige muito de mim. É como se as coisas mais simples parecem ser sempre um grande desafio. E até mesmo levantar todas as manhãs e aproveitar o dia não chega a ser tão prazeroso quanto já foi um dia.
A qualquer momento eu posso desmoronar de vez. Mas, enquanto isso não acontece, acho que preciso parar com as interrogações. Afinal, quando me olho no espelho, ainda sou a mesma de antes. Sei que alguma coisa mudou, mas o que posso fazer? A vida segue. A vida segue, e sempre voltamos a pensar no que poderíamos ter feito, e no que poremos fazer.