Todo mundo gosta de fazer promessas. Vinte anos atrás, quando ainda éramos jovens, gostávamos de dizer que as coisas iriam ser diferentes com a gente. Casamentos acabam, mas nós juramos amor eterno. O que será que aconteceu, então?
       O tempo passou e o nosso amor incondicional nos fez amantes do narcisismo. Para o mundo, éramos um casal perfeito, mas, com o passar dos dias, era fácil perceber que alguma coisa estava dando errado. No começo, gostávamos de falar sobre como éramos próximos, sobre como nossos filhos seriam lindos. Agora, nós não conversamos mais sobre nada. Se por fora exalamos líbido, por dentro não passamos de dois idiotas com mania de grandiosidade. E hoje, quando penso em como fomos bobos, tenho vontade de bater naquele jovem arrogante que insistiu em ignorar a realidade. 
       Sabe, alguém poderia ter me avisado. Por quê ninguém me contou que o meu casamento iria escorregar lentamente para o poço da rotina; que o sexo, com o tempo, se tornaria algo dispensável; e que o convívio iria acabar com a nossa paciência e bom humor? Se eu tivesse tido pelo menos um aviso, seria fácil encarar os problemas atuais. Mas não. Tive que descobrir, do pior jeito, que as piores brigas seriam aquelas com os motivos mais triviais. Você esqueceu de abaixar a tampa do sanitário? Ótimo. Essa é uma boa maneira de começar uma discussão sobre como nossas vidas não são mais perfeitas. 
       A verdade é que nós mudamos. O casamento cria certos padrões de comportamento para cada pessoa e, no meu caso, comecei a dizer algumas merdas de vez em quando. Enquanto isso, você se tornou incapaz de escutar qualquer problema meu e, todos os dias, reclamava que eu "só sabia falar do trabalho". Fingimos, assim, que era fácil aceitar esses pequenos defeitos. Mas não por muito tempo. 
       Sete anos de casados, e agora nós nem olhamos um para a cara do outro. Danos irreparáveis foram causados. Nós perdemos nossa inocência, quebramos promessas e, principalmente, nos tornamos imperfeitos. A confiança, estraçalhada, jaz em algum canto empoeirado de nossa relação. Lembra daquela vez que juramos que nunca iríamos fazer xixi de porta aberta? Pois é. Não deu certo. Aliás, se você parar pensar, todas as promessas que nossas versões mais jovens fizeram não saíram do papel. Uma pena. 
       Uma pena maior, porém, é que eu não posso voltar ao passado. Se eu pudesse me materializar na frente daquele adolescente bobo, inocente e sem juízo para dizer que nenhum de seus planos iriam dar certo, talvez eu não estivesse aqui hoje. "Pare de achar que sua vida é perfeita", eu lhe diria.  "Você é jovem demais para achar que é dono do mundo. Cresça!".  E se por alguma razão a história se repetisse, é porque mereço estar aqui, na sala de espera da audiência que irá me separar da única mulher que já amei na vida.

QUEM ESCREVEU?

Iule Karalkovas
30 anos. Tem um gato chamado Alycia. Sonhadora, poeta, crítica. Ama escrever. Começou o VIDA E ÓCIO em 2012 e até hoje mantém postagens não tão regulares.

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