— Estou exausto.
Emma não tirou os olhos da sua leitura. Encarando o teto, me ajeitei na cama devagar, apenas tomando cuidado para não tocá-la.
— Eu também. — ela respondeu em uma voz embargada.
— Amanhã vai ser um grande dia.
— Eu sei. Acho que está na hora de dormir, não?
Novamente aquele silêncio constrangedor. Pelo canto do olho, percebi que ela havia encostado o livro no peito, como se estivesse esperando por alguma coisa. Suspirei baixinho, impaciente. O que ela estava querendo?
Emma gostava de controlar tudo. O jantar era servido sempre as oito e, todos os dias, íamos dormir no mesmo horário. Mas nunca conversávamos. Ela estava sempre lá, lendo, a cara fechada como se dissesse 'ei, não ouse me atrapalhar, amigo'. Sexo? Não sabemos o que é isso há meses.
Ela suspirou.
— Querida? — eu disse gentilmente. — Boa noite. — então me detive. Era hora de medir as palavras. — Te amo.
— Também te amo.
Continuei de olhos abertos mesmo com as luzes apagadas. O que havíamos nos tornado? Apenas dois estranhos procurando, inutilmente, o amor que um dia amoleceu nossos corações. E eu percebi. Percebi quando ela levantou uma das mãos para enxugar as lágrimas que desciam lentamente em seu rosto fino.
Por que eu não fiz nada? Simples. Depois de tantos anos ficou fácil fingir que estava tudo bem. Acompanhá-la aos lugares, incorporar o papel do marido gentil e perfeito. As pessoas tinham inveja de nós. Éramos ricos, tínhamos tudo. Mas a realidade era outra. Vivíanos no inferno, presos em nossas próprias armadilhas.
Emma era uma estranha para mim. Se admitir isso todas as noites me tornava um idiota insensível e covarde, tudo bem. Acho que posso viver com isso.
Cansado demais para continuar remoendo meus sentimentos, fechei os olhos e, forçando-me a dormir, tive a sensação que estava completamente sozinho.
O que talvez fosse verdade.