Já tem algum tempo que eu venho sentindo minha vida escapar do meu controle. É tangível e palpável o quanto estou aos poucos perdendo o rumo e a vontade de fazer qualquer coisa grandiosa, qualquer coisa nova e diferente. Simplesmente não tenho mais nenhum desafio ou meta. Eu perdi o rumo totalmente, não sei bem onde estou e muito menos sei onde quero chegar. Lembro que em uma das nossas últimas conversas você me disse que uma hora eu teria que parar um pouquinho, desacelerar e cuidar de mim. "Dinheiro não é tudo", você disse. Lembro-me que o que respondi na época foi que tinha uma meta e que estava trabalhando para conquistá-la. Pois bem, eu consegui. Cheguei ao pote de ouro, estou "onde sempre quis estar", mas não estou feliz com isso. Eu não consegui ficar feliz com isso. Muito pelo contrário. Eu me sinto totalmente perdida em relação ao que devo fazer agora. Pra onde devo ir? O que devo fazer? Quais metas traçar agora? Estou oca. Se eu gritar agora, será apenas para encontrar o vazio. E o silêncio? A solidão? Eles não me incomodam mais, aprendi a lidar com eles quanto estive doze dias fora do Brasil, numa viagem onde me descobri, mas também me perdi. Porque eu não tenho mais vontade de ficar aqui. De fazer as mesmas coisas todos os dias. De ter uma rotina. De me doar, doar, doar, e sempre cair no esquecimento. De não ter mais um propósito. E eu sinto falta. Sinto falta da imensidão do deserto, do silêncio daquelas noites banhadas pelos pássaros, grilos e trovões, de acordar e não ter nenhuma preocupação, dor de cabeça. De andar e andar, e, mesmo quando não tinha um rumo, eu sentia prazer em ter incerteza. Sinto falta de estar num lugar onde ninguém me conhece ou sabe da minha história. Onde ninguém torce pelo meu fracasso. Onde ninguém me olha com inveja, cobiça, raiva. Muito pelo contrário. Eu só recebia olhares de amor, companheirismo, entendimento. E nas noites... que noites! Conversar com estranhos sobre coisas bobas. Mas agora eu voltei... voltei e meu peito transborda de saudade e medo. Medo de nunca mais minha vida aqui fazer sentido. De nunca mais sentir aquelas coisas de novo. Quando tudo vai fazer sentido outra vez? Quando meu peito vai parar de doer de saudade? Quando vou ser repensada por tudo? Acho que você estava certa. Sempre esteve - pelo menos nessa parte. De resto... você só fez me usar.
QUEM ESCREVEU?

Iule Karalkovas
30 anos. Tem um gato chamado Alycia. Sonhadora, poeta, crítica. Ama escrever. Começou o VIDA E ÓCIO em 2012 e até hoje mantém postagens não tão regulares.
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IULE KARALKOVAS

31 anos. Mulher da música, amante da poesia. Mãe de um gatinho. Sou tudo e sou nada (tudo depende do dia em que você me conhecer).
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