Sei lá. Às vezes sinto que tô perdendo um tempo danado com coisas sem importância. Acordo sempre tarde, porque é tão comum termos a falsa sensação de que podemos dormir mais um pouco - como se cinco minutos realmente fizessem alguma diferença. E aí, eu pulo assustada da cama, deixando minhas roupas pelo chão, até que termino no chuveiro. Nunca tenho tempo para um café da manhã descente, ou para aquela deliciosa pausa antes do trabalho. 

Meu quarto é um pouco bagunçado por conta disso. Um pouco não... totalmente. As coisas só ficam onde deveriam ficar quando vou receber alguma visita. Aí, corro novamente pela casa, catando tudo o que vejo pela frente. De uma maneira ou de outra - e eu ainda não sei porque isso acontece - tudo acaba no fundo do meu guarda-roupa. E ele também anda meio desarrumado. 

Depois do meu café meia-boca, o dia continua. No ônibus, é sempre a mesma história. O motorista corre demais! O cobrador não respondeu o meu bom dia! As pessoas estão fedidas! Já viu. O mau humor começa desde cedo, e se arrasta até que alguém tire um sorriso dos meus lábios com alguma piadinha barata. Mas ele volta, viu? Se alguma coisa dá errado, esbravejo. 

Qual foi a última vez que dei aquela gargalhada gostosa? Já sei. Foi no Natal, quando vi meu primo dizendo ''Mãaaaaaaae, preciso fazer cocô e xixi" com uma carinha super engraçada. Depois disso, só meios sorrisos. Ah! Ontem. Ontem eu consegui rir de verdade. Foi um momento gostoso, cabelos ao vento, fim de tarde. Mais sei lá. Ainda acho que alguma coisa está passando despercebido.

No final do dia, os lamentos se repetem. As pessoas estão ainda mais fedidas! O motorista é um idiota! Essa mulher do meu lado não para de me cutucar! Até chegar em casa. Cansada, tiro a roupa novamente. Desta vez, tomo o cuidado de depositá-la em um canto vazio do quarto. O banho, gelado, elimina qualquer indício de estresse do meu corpo. Já na cama, passo tempo com algum episódio da minha série favorita. Tudo termina bem. Sempre.

Adormeço. 

Amanhã, começa tudo outra vez.

QUEM ESCREVEU?

Iule Karalkovas
30 anos. Tem um gato chamado Alycia. Sonhadora, poeta, crítica. Ama escrever. Começou o VIDA E ÓCIO em 2012 e até hoje mantém postagens não tão regulares.

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