É madrugada na avenida mais bonita da cidade. Os carros, como as estrelas, iluminam os passos que ecoam em meus ouvidos. Mãos nos bolsos. A lua, tão distante e tão sozinha, é a minha única companhia. Ontem foi assim. Anteontem. Antes. Vivendo um dia após o outro, tentando esquecer o passado. O relógio, velho e gasto, já não dá mais as horas. Tenho que me contentar com estranhos, aqueles que andam apressados. As ruas parecem labirintos, como os seus lábios. Lábios que um dia foram meus, pequena. Tento esquecer. Mais uma vez. Ontem foi assim. Tentei me embriagar naquele bar que costumávamos ir juntas. O garçom me reconheceu, disse que eu estava diferente. Que nada! Uma, duas, três doses. Queria estar me embriagando de você, pequena. Mas estou aqui. Estou na avenida mais bonita da cidade - o nosso cantinho, o pedacinho cinza de nossos corações vazios. Perseguindo montanhas-russas. É assim que eu me sinto. Todos os dias. 

QUEM ESCREVEU?

Iule Karalkovas
30 anos. Tem um gato chamado Alycia. Sonhadora, poeta, crítica. Ama escrever. Começou o VIDA E ÓCIO em 2012 e até hoje mantém postagens não tão regulares.

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