Manhã. Vinte sete de outubro. Ele chegou. Camiseta preta, calça jeans clarinha. Um sorriso, um aperto de mão, nada de abraços. Seu cheiro era doce, de alguma colônia importada. Mandei entrar. Sentou no sofá e mal tocou no copo, parecia que estava entediado. Talvez? Mordeu os lábios, se ajeitou duas ou três vezes. Olhou para os lados, como se procurasse uma porta - uma saída. Resolvi agir.
Sentei ao seu lado. Sorri. ''Ei, eu estou aqui'', pensei. Não se importou. Bebi alguns goles da minha vodca barata, tomando coragem. Não podia ser tão ruim assim, podia? Você acabou de revirar os olhos? Acho que já estou ficando bêbada.
Ah, eu lembro. De tudo. De cor. Da voz rouca, macia, fofa, meiga. Deleite.
Você disse que estava com vergonha, mas sei que era puro tédio. As bebidas estavam acabando. Os salgados estavam velhos. Lembra? Ou já se esqueceu? Você me achou engraçada. Disse que eu tinha um ótimo ''senso de humor''. Será mesmo? Tão sério, mal ria das minhas piadas. Fiz de tudo para arrancar um sorriso teu, mas o máximo que consegui foi um repuxar de lábios.
Foi o bastante.
Nos apaixonamos.