Clara piscou lentamente os olhos, bocejando. Se ajeitou na cadeira e tomou um longo gole de café enquanto batia as pontas das unhas na mesa. Pensamentos soltos e disconectos assombravam sua mente, os lábios formavam uma linha torta em seu rosto. Ao fechar os olhos, respirou fundo, como se pudesse esquecer de alguns detalhes de seu dia. Impossível

— Você parece cansada. — disse uma voz rouca. — Acertei? 

Ela não se deu ao trabalho de abrir os olhos. Dando um sorriso torto, convidou o rapaz para se sentar com um aceno de mão. 

— Clara? — chamou a voz. — Clara? 

— Você sabe quanto tempo faz? Faz muito tempo, Roberto. Muito, muito tempo. 

De repente, era como se o tempo tivesse parado. Seis anos antes, nesse mesmo lugar, os dois se encontraram pela primeira vez. Foi uma conversa tímida, mas, mesmo assim, divertida. Agora, depois de tantos desencontros e promessas, era como se quase nada tivesse acontecido. Quase

 — Por que você está perguntando isso? 

— Eu não sei. 

— Você sempre foi estranha. E eu não gosto dessa sua expressão. 

 — Eu sei. — pausa. — E você sempre foi um egocêntrico. 

Silêncio. Clara tomou mais alguns goles de seu café. 

 — Posso saber porque você está com uma aliança no dedo esquerdo? 

— Eu estou casado. 

Risadas ecoaram pelo ar, e, apesar do clima ameno, os dois ainda não estavam completamente à vontade. 

— E eu estou noiva, mas... 

— Você nunca gostou de alianças. 

Pela primeira vez, Clara levantou os olhos de seu café. Com um sorriso tímido, inclinou-se para frente enquanto sussurrava: 

— Quer um café? 

— Claro.

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QUEM ESCREVEU?

Iule Karalkovas
30 anos. Tem um gato chamado Alycia. Sonhadora, poeta, crítica. Ama escrever. Começou o VIDA E ÓCIO em 2012 e até hoje mantém postagens não tão regulares.

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