Gosto de andar de metrô, mas, definitivamente, não gosto de andar de ônibus. Numa segunda-feira, depois de sair do trabalho, enfrentei mais uma vez minha triste rotina: encarar o transporte público.

Eu já estava me acostumando. Passei pela catraca desajeitadamente, e, ao me sentar em um dos assentos, peguei um livro para ler.

"Mas o que é isso? Eu não acredito... isso é uma pouca vergonha!''

Duas mulheres conversavam alto atrás de mim. Aquilo estava me incomodando. Revirando os olhos, fechei o livro e comecei a prestar atenção na conversa.

"Mas será que é isso mesmo? Não pode ser!", disse a segunda voz. "Olha lá a mão dela! Meu Deus!", esbravejou a primeira voz. 

Foi aí que eu olhei para trás. 

Num primeiro momento, não vi nada. Muitas pessoas estavam aglomeradas na porta de saída, comentando coisas aleatórias. Outras estavam assustadas, e tinham os olhos fixos no fundo do ônibus. 

Nos últimos assentos do coletivo, havia um casal de mais ou menos uns 40 anos. A mulher vestia uma blusa rosa e uma calça super apertada. O homem, uma jaqueta desgastada com uma calça rasgada. Até aí, tudo bem. Mas, havia algo a mais

Quando percebi, foi horrível. Os dois não estavam simplesmente abraçados, eles estavam com as mãos nas partes íntimas um do outro! O choque foi tanto que, por causa do susto, engasguei. Logo depois, percebi que, para encobrir o ato, uma blusa fora colocada propositalmente no colo dos dois.

Aquela conduta horrenda continuou por algum tempo, até que, finalmente, o cobrador percebeu o que estava acontecendo. Levantou-se despreocupadamente e, com uma voz firme, declarou que os dois tinham que deixar o ambiente.

"Pára o ônibus aí! E vocês dois, poderiam se retirar?"

O barraco estava formado. Como um raio, o homem que estava sentado fazendo coisas impróprias com sua mulher se levantou e encarou o cobrador com os olhos firmes e desafiadores. Toda a conversa paralela do coletivo cessou, como se aquele fosse o grande momento da verdade.

E foi. 

Quando a mulher se levantou, além de revelar as provas cabais de seu ato - o zíper dela estava aberto - ela também exibiu uma cena que provavelmente estaria nos seus piores pesadelos: a calça, literalmente no meio da bunda, mostrava uma calcinha fio dental rosa choque. Que estava... rasgada.

Os três começaram a discutir, mas não teve jeito: o casal precisou abandonar o ônibus. Quando desceram, um grande sentimento de felicidade se espalhou pelo local, entre assovios e gritinhos de ''uhhhhhh''.

Depois de um tempo, consegui parar de rir. Ajeitei-me no banco e, silenciosamente, voltei a ler o meu livro. Afinal, a vida precisa seguir em frente, mesmo depois de momentos como este. 

QUEM ESCREVEU?

Iule Karalkovas
30 anos. Tem um gato chamado Alycia. Sonhadora, poeta, crítica. Ama escrever. Começou o VIDA E ÓCIO em 2012 e até hoje mantém postagens não tão regulares.

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