Cresci no meio do mato. Todas as manhãs, eu caminhava pela grama que cercava minha casa e pensava no dia em que poderia ir embora. Eu amava aquele lugar, amava a natureza e a calmaria que as árvores me transmitiam... mas eu queria mais. Precisava de mais.
Aos domingos, os sinos da igreja sussurravam para que eu ficasse e eu sabia que, embora o amor crescesse dentro de mim, eu crescia devagar. Com o tempo, aprendi a ler e a pescar. Nos momentos de solidão, escrevia sobre como queria ganhar o mundo e, nos momentos de alegria, via aqueles lindos olhos azuis me dizendo que tudo na vida era possível se você acreditasse.
Depois de um tempo, a vida resolveu levar embora aquele par de olhos. Meu mundo se quebrou, assim como o meu coração. Mas, apesar de toda tristeza, sabia que deveria ser forte. Sabia que deveria seguir em frente. E, então, certa de que deveria honrar aquele momento, fiz uma promessa.
Minha mãe costumava dizer que eu era ingenua. Mas meu gênio, apesar de doce, era livre como uma andorinha, e, no fundo, sabia que era apenas uma questão de tempo para que eu caísse no mundo. "Não me deixe só, não me deixe'', ela costumava implorar.
O tempo passou. Meus medos, minha raiva, minha angústia, minhas dúvidas e meus sonhos cresceram junto comigo. Eu ainda queria ganhar o mundo, ajudar pessoas e ser feliz. A verdade era que eu já não era mais uma menininha e, apesar de ainda ter medo de partir, a hora enfim havia chegado. Precisava de coragem para arrumar as malas. E, apesar de não querer deixar o meu lar, meus pais, minhas coisas, sabia que isso tudo era preciso. Eu queria realizar o sonho de me tornar grande em uma cidade maior ainda.
O tempo passou. Hoje, lembro com certa nostalgia da sua voz triste ao telefone, das noites mal dormidas, das lágrimas sobre o travesseiro. Será que valeu mesmo a pena? É nessas horas em que fecho os meus olhos que sinto falta daqueles dias. Sinto falta das risadas sinceras, das noites em família, daqueles olhos azuis, das brincadeiras, das pescarias... sinto falta das pessoas dizendo o quanto eu era corajosa e, principalmente, doce. Sinto falta da calmaria do interior, sinto falta das vozes que diziam que eu era capaz de fazer tudo.
A verdade é que eu mudei durante esse tempo todo. Ao escolher ganhar o mundo e a minha liberdade, eu também realizei muitos desejos e sonhos. Raramente olhei para trás. E quer saber? Eu fui feliz. Muito feliz.