A menina tinha os olhos tristes daqueles que iam chorar. Perguntou:
— Por que sempre que eu me visto bem, a Mamãe briga comigo, Papai?
O pai ficou quieto, exibindo uma cara de desgosto.
— Papai? — Ela voltou a dizer. — Porque a Mamãe sempre corta o meu cabelo quando eu estou bonita?
— Não queremos você desse jeito. — Disse o pai, tirando as mãos do bolso. Logo já estava apontando o dedo indicador na cara de sua filha. — Não vou suportar isso, está me ouvindo? Não vou!
— Porque eu não posso ser quem eu quero ser?! — A menina gritou, se esquivando. — Me amem do jeito que sou, Papai. Por favor...
O pai ficou quieto por alguns instantes. Respirou fundo duas vezes e piscou três.
— Não quero você deste jeito, filha.
Lágrimas desceram dos olhos da garota. Batendo os pés, ela decidiu que era hora de ir embora.
— Quero ser livre e quero que você saiba: Eu sou o meu cabelo.
E então ela se foi.
Estava livre.